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"Há cada vez mais mulheres portuguesas a vender os seus óvulos em Espanha. São jovens, a maioria em idade universitária, que vivem e estudam nos grandes centros urbanos do país vizinho, muitas ao abrigo do programa Erasmus (que facilita a mobilidade dos estudantes) e que, em troca de quase 1000 euros, doam os óvulos – algo proibido em Portugal.No Instituto Marques, em Barcelona, um dos maiores centros de reprodução de Espanha, depois das catalãs, são as portuguesas as maiores dadoras. Seguem-se as alemãs e as holandesas. Ali, cada doação vale 900 euros.Sem querer revelar números, Marisa López-Tejon, directora de reprodução assistida do Instituto Marques e especialista em reprodução in-vitro, garantiu ao CM que as portuguesas dadoras têm aumentado de ano para ano. “São jovens que têm demonstrado uma grande sensibilidade para o problema da infertilidade e que chegam aqui com o desejo de ajudar outras mulheres. Em Portugal, a lei proíbe a doação de óvulos. Por isso, as mulheres portuguesas fazem-no em Espanha”, diz.Quanto à contrapartida financeira, aquela responsável nega que essa seja a principal motivação. “Estamos a falar de jovens de um nível sócio-económico médio alto, que estudam fora do seu país e que têm pais com um elevado poder de compra”, afirma. Da mesma forma há também, segundo Marisa López Téjon, “cada vez mais portuguesas que recorrem a clínicas espanholas para engravidar com óvulos de dadoras”.
António e a sua mulher, Mariana foram um dos muitos casais portugueses que recorreram a uma dessas clínicas. O problema de infertilidade começou por causa de uma baixa contagem de espermatozóides, mas rapidamente se percebeu que também Mariana tinha problemas. “Recorremos então a dadores de ovócitos em Espanha porque cá não é permitido”, conta. Agora, depois de recorrerem a um processo de doação dupla, António e Mariana encontram-se na fase a que se chama de “adopção” do embrião, um processo caríssimo que ronda dos 9000 euros. “Há casais que fazem empréstimos e que se endividam para conseguirem vir a Espanha”, diz António.Esta realidade, contudo, pode vir a mudar muito em breve, já que a nova lei de Procriação Medicamente Assistida (PMA), ontem aprovada na Comissão Parlamentar de Saúde, contempla não só a doação de espermatozóides, mas também a de ovócitos e embriões. Ontem foi também formalmente apresentada a primeira Associação Portuguesa de Infertilidade, uma organização que visa dar apoio a todos os que sofrem com uma doença que já foi, inclusive, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Ainda existe muita vergonha por parte das pessoas que sofrem deste problema. O desgaste emocional é muito grande. E é preciso que sejam apoiadas”, diz Cláudia Vieira, porta-voz daquela Associação."